Você já escutou uma música e, de repente, foi transportado para uma lembrança distante? Pode ser uma viagem, uma fase da infância, um momento especial… A música tem esse poder. Ela ativa áreas do cérebro ligadas à emoção, à linguagem, à memória e até ao movimento. Ou seja, quando ouvimos uma canção, o nosso corpo e a nossa mente respondem de forma completa: emocional, física e cognitiva.
Essa característica faz da música um recurso riquíssimo dentro da educação, especialmente em um contexto bilíngue, onde o aluno está em constante contato com um novo idioma, novas sonoridades e significados.
Neste post, queremos compartilhar por que a música é tão potente no ensino de línguas e como ela pode ser aplicada de maneira prática e estratégica nas aulas bilíngues.
O que a música faz com o cérebro?
A ciência já mostrou que a música ativa múltiplas regiões do cérebro simultaneamente: o córtex auditivo, responsável por processar os sons; o hipocampo, ligado à memória; o sistema límbico, que regula as emoções; e até o cerebelo, que ajuda na coordenação e no ritmo.
É por isso que ouvimos uma música e sentimos vontade de cantar, dançar ou apenas fechar os olhos e lembrar. A música tem o poder de acalmar, energizar, emocionar, e também de ensinar. Quando envolvemos nossos alunos com músicas em inglês, por exemplo, estamos ativando todos esses sistemas cerebrais a favor da aprendizagem.
Além disso, o contexto musical reduz a ansiedade, cria um ambiente mais leve e fortalece a confiança do aluno em se expor oralmente, um ponto crucial para quem está aprendendo uma nova língua.
Música e aprendizagem de línguas: uma combinação poderosa
No ensino bilíngue, usamos a música como uma ponte entre o idioma e a vivência do aluno. Ela não substitui o conteúdo programático, mas o potencializa. Através dela, é possível:
- Fixar vocabulário novo de forma lúdica e repetitiva;
- Melhorar a pronúncia e a fluência oral, ao imitar sons, entonações e ritmos naturais da fala;
- Desenvolver a escuta ativa, com atenção a palavras-chave e compreensão global;
- Criar conexões emocionais e culturais com a língua-alvo;
- Incluir todos os estilos de aprendizagem, especialmente os alunos que aprendem melhor por meio de estímulos auditivos ou cinestésicos.
Música e BNCC: aprendendo com arte e propósito
Na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a música aparece como uma linguagem artística dentro do componente de Arte. Ela é valorizada por seu papel no desenvolvimento integral da criança, estimulando criatividade, linguagem, raciocínio, expressão e sensibilidade.
A BNCC propõe que os alunos explorem sons, ritmos, melodias e timbres por meio de práticas como escuta, criação, apreciação e performance musical. Além disso, a música pode ser trabalhada de forma interdisciplinar, conectando-se a outras áreas como Língua Inglesa, História ou Ciências.
Mais do que uma atividade lúdica, a música é uma ferramenta pedagógica potente que contribui para uma aprendizagem significativa e prazerosa.
Planejamento intencional: música com propósito
Antes de escolher a música ou levar a atividade para a sala, pense: Qual é o objetivo pedagógico dessa canção? Você quer trabalhar vocabulário de uma unidade? Melhorar a escuta ativa? Estimular a produção oral?
Ter clareza do que se quer alcançar com a atividade ajuda a tornar a aula mais eficaz e alinhada com o planejamento. A música é um recurso poderoso, e, usada com intenção, pode transformar a aprendizagem.
7 ideias práticas de atividades com música para suas aulas bilíngues
A seguir, selecionamos algumas sugestões de atividades simples e eficazes que você pode aplicar na educação bilíngue. O ideal é que a música escolhida esteja conectada com a unidade em andamento, o vocabulário-alvo ou mesmo com temas transversais, como sentimentos, rotinas, meio ambiente, entre outros.
1. Complete a música (Gap-fill)
Distribua a letra da música com algumas palavras faltando. Os alunos devem escutar com atenção e preencher as lacunas. É uma forma de trabalhar vocabulário, compreensão auditiva e ortografia.
Dica: para os menores, use imagens no lugar das palavras. Para os maiores, varie o nível de dificuldade com verbos no passado, preposições ou vocabulário específico.
2. Cante e represente (TPR com música)
Escolha músicas com verbos de ação e combine com gestos. Os alunos escutam, cantam e fazem os movimentos correspondentes. Esse tipo de atividade envolve o corpo e a mente, reforçando o aprendizado por meio da memória motora.
3. Crie uma nova estrofe
Depois de trabalhar o vocabulário e a estrutura da música, proponha que os alunos criem uma nova estrofe ou um final diferente para a canção. É uma atividade excelente para produção oral ou escrita, além de estimular a criatividade.
4. Sequência de imagens
Entregue imagens que representem partes da música fora de ordem. Os alunos devem escutar a canção e colocar as imagens na sequência correta. Trabalha escuta, compreensão e pensamento lógico.
5. História da música
Pergunte aos alunos: “Sobre o que essa música está falando?” Incentive-os a recontar a história da canção com suas palavras, oralmente ou em pequenos textos. Essa atividade desenvolve interpretação, vocabulário e fluência.
6. Coloque a canção em ordem
Imprima tiras com frases ou versos da música escolhida e entregue embaralhadas para os alunos. Ao escutarem a canção, eles devem colocá-las na ordem correta.
Essa atividade estimula a escuta ativa, a atenção aos detalhes e a compreensão geral da música.
7. Inclua músicas na sua rotina diária
Incorporar músicas no início e no encerramento das aulas é uma estratégia simples e poderosa, especialmente na Educação Infantil. As crianças pequenas aprendem principalmente por meio da repetição, e a música ajuda a criar previsibilidade, segurança e engajamento. Cante ou toque as mesmas canções todos os dias para marcar momentos específicos, como a chegada, a hora de guardar os materiais ou o fim da aula. Com o tempo, elas começarão a associar cada música a uma ação ou momento, o que fortalece o aprendizado da língua e o senso de rotina.
Mais do que um recurso, uma experiência
Usar música em sala de aula bilíngue não é apenas uma forma de variar a rotina ou “animar” os alunos. É uma prática pedagógica rica, validada por estudos, por experiências e pela própria BNCC. Ao incorporar canções no seu planejamento, você cria experiências afetivas e linguísticas que os alunos vão levar consigo por muito tempo, talvez para a vida toda.
Se a música nos marca tão profundamente como ouvintes, imagine o que ela pode fazer por nossos alunos como aprendizes.