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Bilinguismo e TEA: entendendo possibilidades e desafios na inclusão escolar

“Crianças autistas podem aprender duas línguas?”

“O bilinguismo pode atrapalhar o desenvolvimento delas?”

“A inclusão escolar realmente favorece essas crianças?”

Essas dúvidas são comuns entre famílias, educadores e profissionais da educação. Em tempos em que se fala muito sobre inclusão e ensino bilíngue, é fundamental refletirmos com base em evidências científicas e respeitando a singularidade de cada criança.

O que é o Transtorno do Espectro Autista (TEA)?

O TEA é um transtorno neuro desenvolvimental que afeta o modo como a pessoa percebe, interage e se comunica com o mundo. Trata-se de um espectro, pois suas características e intensidade variam muito entre os indivíduos. Algumas crianças apresentam dificuldades significativas na comunicação verbal e nas interações sociais, enquanto outras possuem habilidades mais desenvolvidas nessas áreas.

Entre os principais desafios do TEA estão: dificuldades de comunicação social, interesses restritos e padrões repetitivos de comportamento. Essas características demandam adaptações e estratégias específicas para apoiar o aprendizado e o desenvolvimento das crianças.

Compreender o TEA é essencial para criar ambientes educacionais que acolham verdadeiramente as necessidades e potencialidades dessas crianças, evitando abordagens genéricas e inadequadas.

O bilinguismo e a criança com TEA: o que a neurociência revela

Durante muito tempo, houve a crença de que expor crianças com TEA a duas línguas poderia causar confusão ou atrasos no desenvolvimento. No entanto, estudos recentes têm mostrado que isso não é verdade.

O cérebro de crianças com TEA funciona de forma singular, mas isso não impede o processamento e aprendizado de múltiplas línguas. Pelo contrário, a exposição bilíngue, quando acompanhada por suporte adequado, pode estimular redes neurais relacionadas à atenção, flexibilidade cognitiva e memória de trabalho. Pesquisas como as de Hambly e Fombonne (2012) indicam que crianças bilíngues com TEA não apresentam desvantagens linguísticas em comparação às monolíngues, podendo até apresentar melhor desempenho em certas habilidades comunicativas.

É importante destacar que o que pode gerar dificuldades não é o bilinguismo em si, mas sim a ausência de suporte pedagógico adequado, rotina estruturada e estratégias de comunicação visual e interativa.

A inclusão escolar: desafios reais e caminhos possíveis

A inclusão de crianças com TEA em salas regulares é uma conquista importante, pois promove a convivência com a diversidade e a construção de uma sociedade mais justa. Contudo, a inclusão só é efetiva quando acompanhada de preparo e suporte adequados.

O bilinguismo como ferramenta na inclusão: potencial e cuidados

No contexto escolar bilíngue, o bilinguismo deve ser visto como uma ferramenta que pode apoiar o desenvolvimento da criança com TEA, desde que aplicada com atenção às suas necessidades.

Crianças com TEA frequentemente se beneficiam de rotinas claras, comunicação visual e repetição, características que podem ser incorporadas no ensino bilíngue de forma a facilitar a aprendizagem. O uso de imagens, gestos, músicas e comandos curtos em ambos os idiomas pode criar uma experiência rica e acessível.

Entretanto, o sucesso dessa abordagem depende de adaptações que respeitem o ritmo da criança, evitando pressões e comparações que possam gerar ansiedade.

Estratégias para uma inclusão bilíngue efetiva

Para garantir que o bilinguismo e a inclusão sejam positivos para crianças com TEA, algumas estratégias são recomendadas:

Capacitação contínua dos professores: formação sobre TEA, bilinguismo e métodos inclusivos.

Uso de recursos visuais e tecnológicos: que facilitem a compreensão e interação.

Apoio interdisciplinar: fonoaudiólogos, psicopedagogos e terapeutas podem atuar em conjunto com a escola.

Envolvimento da família: diálogo constante entre casa e escola para alinhar expectativas e estratégias.

Adaptação curricular: flexibilizar atividades e avaliações conforme as necessidades individuais.

Fomento ao respeito e empatia: promover o entendimento entre colegas sobre as diferenças e singularidades.

Conclusão

Crianças com TEA têm potencial para aprender e crescer em contextos bilíngues e inclusivos quando esses ambientes são preparados de forma adequada. A verdadeira inclusão vai além da presença física na sala de aula, ela acontece quando a criança se sente acolhida, compreendida e apoiada em seu processo único.

Investir em formação, recursos e cultura escolar inclusiva é fundamental para que o bilinguismo se torne uma ponte e não um obstáculo.