Quando pensamos em ensinar uma segunda língua para crianças, costumamos olhar para métodos, recursos e abordagens pedagógicas. E, na maioria das vezes, temos medo de que atrapalhe o desenvolvimento da língua materna e confunda as crianças. Mas e se voltássemos um passo e observássemos o cérebro em desenvolvimento? A neurociência tem muito a contribuir com os educadores bilíngues, especialmente quando falamos do papel do córtex pré-frontal na aprendizagem de L2.
O que é o córtex pré-frontal e por que ele importa?
O córtex pré-frontal é a região do cérebro associada a funções executivas como:
- Tomada de decisões
- Autocontrole
- Planejamento
- Memória de trabalho
- Flexibilidade cognitiva
Essa região ainda está em desenvolvimento na infância e adolescência — e essa imaturidade, longe de ser um problema, é uma vantagem para o aprendizado de línguas. Crianças têm maior plasticidade cerebral, o que facilita a internalização de estruturas linguísticas de forma intuitiva, especialmente quando o aprendizado é lúdico, contextual e emocionalmente significativo.
Por que isso impacta a aquisição de uma segunda língua?
Durante os primeiros anos de vida, o cérebro é altamente receptivo a estímulos linguísticos. O córtex pré-frontal, ainda em desenvolvimento, não inibe tanto os “erros” e permite que a criança experimente mais livremente a nova língua, sem medo de julgamento ou autocensura.
Além disso:
- Crianças não precisam de regras gramaticais explícitas para aprender: elas absorvem padrões naturalmente.
- A memória de trabalho ainda em formação pede instruções simples e repetição com variação.
- Como o córtex pré-frontal está em construção, as emoções influenciam fortemente a aprendizagem: um ambiente afetivo e seguro é essencial.
Essa imaturidade do córtex pré-frontal também significa que as crianças não têm as mesmas barreiras emocionais e sociais que os adultos têm ao aprender uma nova língua. Elas ainda não desenvolveram o medo do julgamento, o perfeccionismo ou a vergonha de errar — tudo isso vem com o tempo, conforme o cérebro amadurece. Por isso, professores podem, e devem, se sentir mais à vontade para falar em inglês com os alunos o tempo todo, sem medo de “confundir” ou “sobrecarregar”.
Pelo contrário: quanto mais consistente for a exposição ao idioma, mais natural será o processo de aquisição. A criança aceita com facilidade esse ambiente bilíngue e constrói sentido a partir do contexto, da entonação e da repetição. E é exatamente essa liberdade que o cérebro imaturo proporciona, ele acolhe, experimenta e integra o novo idioma com mais fluidez.
O que isso significa para programas bilíngues?
Entender o cérebro infantil ajuda a tomar decisões mais acertadas no ensino bilíngue:
- Menos ênfase em correções formais e mais em exposição rica ao idioma.
- Aprendizagem baseada em experiências concretas, lúdicas e afetivas.
- Uso de rotinas e repetição com propósito, para fortalecer conexões neurais.
- Interação em contextos reais — mesmo que simples — para gerar engajamento emocional e significado.
- Acompanhamento da evolução cognitiva, adaptando expectativas e estratégias ao longo do crescimento.
Conclusão: quando o cérebro fala, o bilinguismo escuta
A formação do córtex pré-frontal nos lembra que não é só o que ensinamos que importa, mas como e quando. Programas bilíngues que respeitam o desenvolvimento neurológico das crianças têm mais chances de formar não só falantes de inglês, mas também pensadores flexíveis, criativos e preparados para o mundo.